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Suicídio

Setembro está chegando ao fim, trazendo a primavera. Com ela, a exuberância da vida na cor das flores que desabrocham. É bastante simbólico, se temos em mente que esse mês tem se consagrado com a campanha amarela, em prol da vida e contra o suicídio.

Se há uma coisa certa na vida, é que um dia se morre. Para acreditar na morte, no entanto, há que se ter fé – é o que repetia Lacan. Ninguém dela voltou para dar notícias. No entanto, sabemos por testemunho – e não por vivencia própria – existem muitas maneiras de morrer e algumas certamente são mais estupidas que outras.

Suicídio é tema polêmico, há sempre o medo do desconhecido, carregado por uma coragem cega, delirante e, talvez, contagiosa e, por isso, melhor deixá-lo escondido num canto, como se o fantasma não existisse, ou o desejo ficasse impedido de correr solto. Há, é claro, os suicídios heroicos nos tempos de guerra. Há também as eutanásias, as mortes por uma causa e todos os demais atos de renúncia altruísta pela vida. Essas pessoas, no entanto, não são efetivamente suicidas.


Suicida é aquele que, num ato na maioria das vezes insano e impulsivo, deleta a si mesmo. Há um desejo que se articula no seu ato. E o que está em causa não é apenas o desejo de reconhecimento – uma vez que o suicídio pode ser quase sempre relacionado a sujeitos que foram filhos não desejados. O suicida não apenas passou a vida desejando reconhecimento, mas também reconhece seu desejo. É isso que o precipita no seu ato mortal.

E seu desejo, crivado de mágoas, pleiteia mostrar ao outro o que ele não lhe deu. Ao morrer, o suicida eterniza uma dívida que não lhe foi paga. Ato estúpido, porque resume a beleza da vida a essa demanda, direcionada geralmente a uma única pessoa.

Os melancólicos em geral são suicidas que se deixam morrem aos poucos. Cada entardecer leva consigo um pouco de sua vitalidade. De fato, há muitas maneiras de morrer. Viver exige desejo.


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