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Depressão, a dor de existir

Atualizado: 31 de out. de 2020

O cinza assaltou os dias, até instalar-se de vez.

No céus, nuvens vagueiam por um vento que não parece existir. Onde foi parar o sorriso que eu tinha em meu rosto?

Só o choro consola.


Faz parte da vida, a tristeza.

Se há uma certeza, nesse nosso caminhar, é que não se passeia pela vida incólume. Os momentos de satisfação muitas vezes são pagos com momentos tristes, os ganhos equivalem às perdas.


Depressão, no entanto, é mais que tristeza. É a dor que não passa, que gruda, que toma o sujeito em casamento. Em geral, se trata de um sintoma, de um alerta gritando que há um trabalho psíquico por fazer. Pode ser um sintoma neurótico, um luto que está se encaminhando mal, a perda de uma condição, de um emprego, o afastamento dos amigos.




Lacan chamou-a “dor de existir”, e considerou os estados de humor termômetros do desejo. Onde advém a depressão, o desejo fenece. Em oposição à ela, está o gaio saber, a necessidade de o sujeito se haver consigo mesmo.


Antes disso, Freud havia comparado a melancolia, patologia normalmente confundida com a depressão, com o luto, pela tristeza que ambos manifestam. Luto é a reação a uma perda, seja ela qual for. Nada mais normal que chorar por algo que se perdeu, doente seria aquele que não pode fazê-lo. Mas em algumas pessoas a trilha traçada pela dor parece não apresentar um caminho de volta.


Passa-se então a investir em lembranças, fotografias de um passado que não mais se faz presente. O sujeito começas a se indagar aonde perdeu o rumo, quais as outras vias que poderia ter tomado, quais as chances que perdeu. Aí vem a autocrítica, a culpa, sempre implacável, e uma dor sem fim. Não à toa, Freud diz que sobre o sujeito caiu uma sombra, a sombra de algo perdido, mesmo que não se saiba bem o quê. É a própria sombra da morte, a sombra da própria morte, a morte do seu desejo.


Nos sombrios tempos em que vivemos, acuados por um vírus, muitas perdas se atualizam, fazendo emergir dores antigas e desejos não realizados. Poder encarar de frente o sofrimento que assalta é o único meio de reestabelecer o desejo.

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