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As Identificações Freud - Lacan

(LIVRO DE AUTORIA DE LEONARDO ADALBERTO FRANCISCHELLI E MARGARIDA VIÑAS RIBEIRO LIMA)




Identificação, o que é isso?

Possuidor único do privilégio da linguagem, desde cedo o homem – investigador nato e incansável – tenta desvendar a si próprio. No escuro cenário atual, caracterizado pela devastação da natureza, pelo fascismo inquebrantável, pela violência impiedosa, pela guerra gananciosa e principalmente pela total objetivação do semelhante, é perturbador indagar qual o seu papel na terra e nas suas relações com os outros, seus iguais. Individualmente, interrogamo-nos qual a nossa identidade dentro do universo de todos. Semelhanças e diferenças são rastros herdados ou adquiridos por cada um, através da maneira pela qual se é inserido no universo cultural que nos cerca.

Retrocedendo na história, nossos registros se voltam para os gregos. Já então Heráclito refletia: "Eu me procurei a mim próprio". Parmênides, pouco depois, afirmava: "Necessário é dizer e pensar que só o ser é; pois o ser é, e o nada, ao contrário, nada é: afirmação que bem deves considerar". Seguindo o giro pela filosofia, chegamos à Descartes que afirma "Penso, logo sou". Muitos anos se passariam até que Lacan desconstituísse o aforisma, concluindo prontamente que onde se pensa não se é, e que se é onde não se pensa.

A soma das partes modifica o todo e, na lógica do pensamento ocidental, foram muitos cuja influencia o transmutou, até que Freud pudesse delinear a identificação na sua plenitude constituinte do homem. A ideia ganha toda a sua potência definidora com Lacan, através do traço unário e do significante subjacente.

Contudo, pensar a identificação como constitutiva implica em compreender como os traços, as características, os sintomas, e tudo que nos faz sermos nós mesmos ingressa em nosso aparelho psíquico. O caminho a trilhar, de fora para dentro, impõe seu detalhamento: a letra que se inscreve, o gozo que se registra, a fala que se faz escritura. Faz-se necessário um percorrido, desde o texto das afasias, até a Psicologia das Massas e Análise do Eu e O Ego e o Id.

De grande relevância na atualidade, o texto das massas convida a pensar na influência das identificações no contexto social, apresentando-as como um poderoso instrumento de fascínio e alienação. É também desse escrito que Lacan retira a ideia de traço unário (Ein Eizeger Zug), a origem do significante, a partir do qual o sujeito vai poder dizer-se isto ou aquilo, mesmo sem ter ideia de onde isto ou aquilo provém. Com efeito, Lacan dedica ao tema um ano de seminário. Mas a identificação não é apenas fator de alienação: também se manifesta no real, sob a forma de sofrimento ou de sintoma.

Se são rastros, traços e pegadas que compõem o homem, deve-se seguir Goethe: do herdado, tome posse!

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