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Sobre o amor...

Atualizado: 5 de nov. de 2020

Mas o que é mesmo o amor? O sentimento que "move montanhas" é pauta de filmes, livros, histórias que movem e comovem desde que o homem se conhece por gente. Mas poucos questionam de que se trata, o amor. A maioria apenas ama. Muitas vezes, inclusive, se ama até adoecer. Alguns até morrem, ou matam, segundo contam, por amor. E não faltou todo um movimento cultural para idolatrar o movimento amoroso, basta estudar o romantismo do século XVIII.


Com tamanha potência, na mitologia grega, o amor é representado por um deus: Eros. Na Teogonia, de Hesíodo, uma das mais antigas fontes gregas, Eros foi o quarto deus a existir. Antes dele houve apenas o Caos, a Terra (Gaia) e o abismo (o Hades). Já Parmênides o colocou precedendo a tudo. Para os Órficos, por sua vez, Eros era filho da Noite.


Nos mitos posteriores, o deus do amor aparece como filho de Afrodite e Ares. Portanto, seus pais são a beleza e a guerra. Talvez por isso apareça muitas vezes retratado com um arco e uma flecha. Nas histórias que seguem, sua mãe, Afrodite, enciumada com a beleza de Psychê (representa a alma humana) mandou Eros feri-la com a sua flecha. Encantado com a moça, ele próprio espetou seu dedo com a ponta envenenada e acabou apaixonado por ela. Quem diria, Eros, o deus do amor, acabou padecendo de seu próprio mal.


Uma versão muito bonita da história desse deus nos é contada pela boca de Diotima, no Banquete, de Sócrates. Aqui, Eros é filho de Poros , o esperto, e Penia, a miséria. Nasce, então, da mistura dos nossos recursos com as nossas faltas. E não vive nem como mortal, nem como imortal. Que seja eterno enquanto dure, já dizia o poeta.

Na psicanálise, é Eros quem tudo comanda. Servimo-nos dele, de modo que, por fim, dele libertemos. É a transferência, fenômeno psíquico descoberto por Freud ao se deparar com os primeiros tratamentos analíticos. Paradoxal, talvez, mas o amor pode ser tanto sintoma quanto salvação, tanto aprisionamento quanto libertação.


Freud sempre alertou que, em última análise, devemos amar para não adoecer. E não deixou de apontar que a psicanálise era a cura pelo amor. Mas há jeitos e jeitos de amar. Além disso, é grande a diferença entre amar e querer ser amado, entre ser sujeito ou objeto de amor. Partindo de Sócrates, Lacan Cunhou uma frase célebre: "amar é dar o que não se tem".

Busca-se, em algum lugar, suprir uma falta. O parodoxo é que o que falta a um não é o que existe, escondido, no outro. Recurso e falta, Poros e Penia, entre um e outro se caminha, ora tentando ser amado, ora tentando amar.

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